quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Refúgio



A pouco e pouco, temos perdido o controle. Não está nas nossas mãos, embora façamos por ajudar. Conseguimos fazê-lo até onde nos é permitido.
Ver quem amamos a lutar, e pouco podendo fazer, dói. A impotência faz com que, cada vez mais, o regressar a casa seja penoso. Se nos fosse possível, tudo estaria resolvido num toque, num instante. Mas não é. Será um processo, duro, trabalhoso, eu sei lá como e quanto e quando...
O que dizer, o que fazer e como pensar. É algo que se faz passo a passo, e ainda assim por vezes atitudes irreflectidas, de quem já não consegue estar impassível, inerte, acabam por trazer mais conflito.

E no meio disto tudo está quem não merece, quem devia pensar apenas em "lollipops and rainbows".

As férias tiveram de tudo um pouco. De mau. De muito... mau. De bradar aos céus, de arrancar cabelos, de desesperar, de ser paternalista e... chegar à exaustão. Baixar os braços e desistir.

Mas, graças a Zeus e a Poseidon, tiveram também um dia MÁGICO. E esse dia, essa sensação, cada cheiro, toque, som e cor, é o meu refúgio.
Há dias que ouvíamos na televisão que havia possibilidade de chuva. "E porque não?", dizíamos nós. Lembranças de dias de mocidade, há muito refundidas nos recantos mais recônditos da memória. O Rato Roeu a Rolha...
Nessa manhã decidimos; vamos hoje cedo. Vamos, voltamos e vamos novamente.
Saímos com o bafo quente do vento pesado a saudar-nos. Chegámos a uma praia cinzenta, de céu e mar, diferente dos outros dias. Conversa, jogos, brincadeira. Todos com a alma pesada, nós pelos nossos motivos, os que nos acompanhavam pelos seus.
E trovejou.
Olhámos o céu carregado, e uma vez mais surgiu a pergunta: "E porque não?"
Não vocalizada. Pensada.
E começou.
Gotas quentes e grossas começaram a fazer-se sentir na pele, a fazer-se ouvir sobre a areia.
Loucura total!
Guardámos rápidamente os haveres, empilhámos toalhas para evitar o encharcamento dos mesmos, e pusémo-nos a caminho. Mas, ao contrário de tantos outros veraneantes, dirigimo-nos para a água.
Foi lindo. Cada gota ressaltava no mar salgado, ou abria um pequeno sulco na areia. De tão grossas, tão pesadas, chegámos a pensar que seria granizo. Mas eram quentes, e não geladas. Entrámos na água até onde foi possível haver pé para o nosso pequeno Migues, e ali ficámos... a lavar o sal da alma, com a água doce que nos chegava dos Céus. As lágrimas rolavam-me pela face, por poder partilhar toda aquela magia com o meu Núcleo. Felizmente que chovia e não foi notado... Lamentei a ausência de alguns, mas não me permiti manchar por muito tempo aquele momento com lamentações. Secretamente agradeci. O meu Refúgio para os próximos tempos... pois ali, naquela junção de Céu e Mar, nada importou. O tempo perpetuou-se em cada gota, em cada onda... e é nesse abraço salgado que recebi, nessa beijoca repenicada a que tive direito, nesses risos loucos de alegria, que me refugio quando a minha mente precisa. Quando eu preciso.
Porque eu PRECISO de construir o nosso futuro sobre raízes de sorrisos. Não por mim. Por ELES.
Obrigada.